terça-feira, 25 de dezembro de 2007
A consoar com o Daniel
A vida tem , ainda, coisas muito bonitas para vermos, sentirmos e ...falarmos delas.
Vem em Paz, Daniel!
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Dia do Professor Moçambicano
Um Professor na Praça dos Heróis (com o filho ao colo)
Em Pemba estava eu a 12 de Outubro, dia do Professor Moçambicano.
Interromperam-se os trabalhos do ENDET para, logo de manhã, muito cedo, (em Pemba aquece muito e o sol nasce às 4:30 da manhã) nos dirigimos para a "Praça dos Heróis" e assistirmos às homenagens merecidas.
Presença do Governador Provincial, da Directora Provincial de Educação (muito jovem e muito bonita) e de outros representantes oficiais, entre eles o "presidium" do ENDET. Muitos professores e muito povo.
Discursos na mesma linha: o professor agente da transformação desejada e em curso, qual promotor de revolução tranquila e o agradecimento global a esses heóis moçambicanos, "sendo certo que alguns podem ter comportamentos menos convenientes", mas nunca a árvore há-de ocultar a floresta.
E o Hino do Professor foi cantado e fez-me transferir para outros contextos.
A letra é assim:
"Nós somos educadores das gerações
Marchemos todos firmes, decididos
Na formação do Homem novo
Na construção de um Mundo melhor - bis
A nossa luta é pela paz
Nosso combate pelo progresso
Ciência e técnica nas mãos do povo
Moçambique será sempre rico e forte
A unidade e o livro são nossas armas
Eduquemos com exemplo e firmeza
No amor à Pátria, no amor ao Povo
a trabalhar, Professores, venceremos" - bis
Alegria
O Departamento de Estatística do Ministério da Educação e Cultura apresentou, agora, no ENDET, o balanço do ano de 2006.
No relatório, lá se pode ler, no que diz respeito às escolas profissionais, :"... o aproveitamento escolar registou um incremento significativo pois passou de 60,4% em 2005 para 70,1% em 2006, e os crecimentos mais expressivos foram apurados em Gaza, Maputo e Niassa" E, em termos de conclusão, pode ler-se " (...) O ensino técnico elementar e o ramo agrário, em 2006, são os níveis de ensino que tiveram os melhores níveis de desempenho escolar dos alunos, com taxas de 70,1% e 76,1%, respectivamente"
Fiquei vaidoso , cantei silenciosamente o "É preciso Acreditar" do Adriano, e no "coffe-break" souberam-me bem os abraços que recebi.
Daqui abraço também os que têm ajudado a construir este edifício de futuro.
XIX ENDET -PEMBA
Areais finos a perder de vista
Animação Cultural na Cerimónia de Abertura
Sob o lema " Educação Para Todos, Competências Para a Produção e Desenvolvimento do País", decorreu em Pemba (antiga Porto Amélia) província de Cabo Delgado o XIX ENDET (Encontro Nacional de Directores das Escolas Técnicas)
Pemba, tem adjacente a 3ª maior e a 13ª mais bonita baía do mundo.
A primeira vez que conheci Pemba foi em 1998 , quando fiz o levantamento, no terreno, das escolas de artes e ofícios existentes em cinco das dez províncias de Moçambique. Desta vez, deu para me encantar um pouco mais com a beleza natural desta praia.
Em termos turísticos, a cidade melhorou as suas infraestruturas: um dos melhores hoteis do mundo está aqui: os preços são um atentado à miséria que vive ao lado. Uma noite, numa suite, custa o que ganha um trabalhador moçambicano durante quatro anos de trabalho...
Na sala onde decorreram os trabalhos estava patente uma exposição fotográfica que remetia para a luta armada aqui travada com dureza e sacrifício para ambas as partes. Valas comuns onde foram enterrados muitos patriotas moçambicanos, a casa da PIDE/DGS onde, outros , foram torturados, e a "Base Moçambique" - um dos objectivos da operação "Nó Górdio" conduzida por Kaulza de Arriaga - fizeram-me saborear um amargo nó na garganta.
E até o grupo cultural que nos animou tinha o sugestivo nome de "Quarenta Anos de Luta"
Cabo Delgado é, realmente, o solar da independência de Moçambique e os macondes, aqui residentes, têm orgulho na luta que desenvolveram contra o regime colonial português.
A História tem, no entanto, que se aceitar e bons são os povos que não guardam rancor relativamente ao passado, que apostam na solidariedade que o futuro pode trazer e que, nestes dias, partilharam experiências em torno da educação do que de mais precioso pode ter um país: a sua Juventude.
sábado, 6 de outubro de 2007
Casamento II - "Lobolo"
embrulhado numa capulana e depois de "negociado"
O fato completo para o pai da noiva
Na véspera do casamento civil e religioso tem lugar o lobolo e anelamento, em que os representantes do noivo apresentam à familia da noiva um conjunto de dávidas que se destinam a compensar a sua saída daquela família e daquele lar.
Cerimónia contestada por alguns, que vêem nela "a compra" da noiva, o lobolo é, antes de mais, um contrato que responsabiliza a família da noiva no sentido de impedir que o casamento se dissolva por culpabilidade dela, pois, neste caso, o dote terá que ser devolvido.
Deste modo, a família e os padrinhos ao descobrirem qualquer problema no novo lar terão que intervir, acompanhar e ajudar a resolver a situação.
O dote exigido, previamente anunciado e considerado razoável pelos mais experientes, era o seguinte:
Dinheiro de anelamento : 5 000 ooo,00 de meticais; Bebidas: um garrafão de vinho,uma caixa de cerveja,uma caixa de refresco,uma garrafa de vinho branco; Roupa do papá: fato completo, camisa, gravata, par de sapatos,bengala,cinto,chapéu,par de meias; Roupa da mãe:um fato,um mucume e vemba,capulana,lenço,uma carteira,um par de sapatos,rapé,uma capulana e quenca; Roupa da noiva :um fato,um par de sapatos,uma calcinha,uma carteira,um par de brincos de ouro,um fio de ouro,um anel de ouro,um mascote de ouro, um relógio; Avós: um mucume e vemba,uma camisa e gravata; Tias: duas capulanas e lenços, lenço para dinheiro.
A cerimónia ocorre em casa da noiva, com o mestre de cerimónias a fazer sentar os padrinhos em lugar de destaque e em "cadeiras especiais".
Da família, os homens, pai da noiva incluído, sentam-se em cadeiras e as mulheres sentam-se em esteiras, no chão.
Começa, então, um interessante diálogo entre a família da noiva e os representantes do noivo, que tem de estar ausente, mas andar por perto.
No diálogo, a famílai pergunta ao que vêm aqueles estranhos e a resposta centra-se no pedido da mão de uma menina que habita aquele lar.
O pai manda entrar todas as filhas para que a eleita seja indicada, sendo-lhe perguntado se "conhece aqueles senhores". A resposta é "sim, conheço papá, são família do meu noivo".
As irmãs retiram-se e a noiva é convidade a sentar-se no chão, começando então a ser apresentado o dote à medida que as diferentes dádivas são solicitadas por membros da família. Tudo é espalhado no chão, sendo o dinheiro depositado, nota a nota, numa capulana nova, aberta sobre uma esteira.
Começa então um acerto negocial, normalmente solicitado pelas tias, que acham que a sobrinha "vale" um pouco mais e a presença de moedas no dote é
condição necessária. A cada pedido, sempre discutido e regateado, cai mais uma nota, normalmente vinda dos padrinhos que vão prevenidos com notas de pequeno valor. Aceita-se, por fim, o dote e rompem cantares de satisfação por parte das mulheres presentes.
E chega o momento mais comovente: a noiva embrulha o dinheiro na capulana e, de joelhos, entrega-o pai, dizendo: "Papá, recebe, não tenhas medo, nunca vais devolver este dinheiro, pois eu juro-te, na presença de todos e dos padrinhos, que nunca serei preguiçosa no meu lar, que hei-de ser uma esposa fiel e dedicada ao meu marido e que nunca o meu casamento se destruirá por minha culpa. Aceita, papá e deixa-me partir desta casa onde fui criada, que eu prometo visitar-te muitas vezes. Abençoa-me papá!"
Entretanto o pai retira-se para vestir o seu fato novo, regressando, pouco depois, com um ar imponente e patriacal, batendo com a bengala, compassadamente, no chão.
O padrinho vai, então, buscar o noivo e entrega-o à noiva. Explode uma alegria colectiva, com cantos e danças tradicionais, com hilariantes risos por parte das mulheres e que só param quando uma lauta refeição começa a ser servida.
E, daqui a pouco, vão começar as outras cerimónias.
Boa noite!
Casamento I
Como aluno, tive de ouvir as "lições" dos experientes e , de bloco na mão, comecei a a anotar procedimentos, posturas, respostas adequadas, que teria que saber na hora certa e nos locais certos.
A mistura de um ritual tipicamento africano e pagão com a religiosiodade da parte católica das cerimónias , deram-lhe uma força e um colorido que jamais esquecerei. O que me impressionou foi a seriedade das cerimónias, com os seus rituais, a sua alegria, a sua cor, a sua magia.
Como padrinho tinha de saber tudo, de estar sempre no local certo, de decidir na hora, de me sentir importante, "de mandar nas cerimónias"
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Interregno
Primeiro, uma gripe, designada como "virose atípica africana" que me pôs a pão e laranjas durante quase quatro semanas e me fez fazer despite de malária por três vezes; depois, o casamento africano em que fui padrinho e que me ocupou 4 dias à média de 18 horas/dia. A seguir, um salto a Angola por motivos profissionais.
Claro que ninguém terá dado por esta ausência, mas foram tantas ,tão interessantes e tão ricas as experiências colhidas, que não resitirei a publicá-las.
Até àmanhã!
domingo, 16 de setembro de 2007
Avô
Um neto, o Daniel.
Obrigado Magda!
"Sabes Daniel, quando o avô estava em África, foi à caça dos leões que são muito perigosos. Mas o avô, era um homem de coragem, não tinha medo de nada. E de manhã, muito cedinho, lá foi à procura dos leões. Eles ainda estavam todos a fazer óó.... "
(E lá hei-de arranjar a maneira de não matar nenhum, acabando por apertar a mão a todos e a prometer ficar muiiiito amigo deles)
Chokwè
Ao visitar Chokwè, antiga Trigo de Morais, não posso esquecer o que aqui vi, quando a visitei, logo em 2001.
As cheias tinham desfeito a cidade. Na escola agrária acumulava-se lama com um metro de altura e o caos estava instalado. A água tinha subido até ao primeiro andar. Os dormitórios não tinham esgotos, nem água, nem luz e eram autênticos viveiros de malária. Os documentos que constituiam o arquivo da Escola estavam pendurados em cordéis, como peças de roupa, à espera que o sol lhes secasse a humidade e os tornasse minimamente legíveis. Nos alunos só havia descrença estampada nos olhares tristes e conformados.
Também a guerra havia afectado muito a região. Nesses tempos a escola servia de abrigo quer a alunos quer à comunidade em geral. E, mesmo assim, era flagelada com fogo de artilharia que matava e provocava muitas danificações . E se a guerra tinha o carimbo dos homens, Deus carimbou as restantes calamidades. Pobre gente!
Agora vi uma cidade renascida. E para a continuação desse renascimento eu apareci para anunciar a recuperação da escola por intermédio da Cooperação Portuguesa.
Mas o que me surpreendeu foi ter visto, num "placard" do gabinete da Direccção, um galhardete da Escola Profissional de Agricultura de Abrantes. O intercâmbio, feito em 2002, não estava apagado e a "minha" escola não estava esquecida.
Ainda me avisam para não ser emotivo!
sábado, 15 de setembro de 2007
Directivas Para as Escolas - Arquivo Morto (III)
1. Assim, em trabalho coordenado da direcção, professores e comunidade deve ser assumida a responsabilidade de todos participarem no processo de transmitir ao aluno a prática e gosto por:- boa apresentação no modo de vestir, aprumo, compostura e asseio (roupa limpa, cabelo cortado, limpo e penteado, higiene e limpesa individual).- civismo e cortesia no trato com outras pessoas - modo de as cumprimentar, de se levantar, de se sentar, de falar...- arrumação, embelezamento e organização:-livros e cadernos encapados, sacos limpos, lápis afiado;- sala de aula, instalações do recinto escolar, o pátio, campos de jogos, jardins impecáveis;-o quarto de dormir arranjado, a cama feita ou a esteira dobrada, etc.
2. Em particular, a Escola, durante a "Semana de Preparação do Ano lectivo" deve organizar a integração dos novos alunos e educá-los sobre o modo de utilização dos sanitários, balneários, pátios, salas de aula, campos de jogos.Mais concretamente, devem aprender a não sujar as paredes e o chão, fechar as retretes, não se sentar em cima dos muros.
3. Todos os sábados a escola deve programar uma jornada de limpeza geral às instalações e ao recinto exterior da escola.
4. É interdito colar cartazes e avisos directa e indiscriminadamente nas paredes porque tal prática leva à rápida deterioração da pintura. As escolas deverão ter locais definidos e preparar quadros para a afixação de cartazes e informações.
5. O recinto escolar deve ser bem demarcado com muros (onde for possível) e sebes a partir de plantas de fácil cuidado e rápido crescimento. É proibido utilizar arame farpado para a demarcação do recinto escolar excepto terrenos anexos (instalações agro-pecuárias)
5.1. No recinto escolar é também necessário delimitar os locais destinados à formatura, ao recreio (sombras, jardins e campos de jogos) e o capim deve ser cortado rente enquanto não houver possibilidade de plantar relva.
6. Todas as escolas devem ajardinar o recinto escolar, plantar árvores de sombra ou de fruta, arbustos de ornamentação e sobretudo flores. Neste trabalho e quando houver necessidade de podar árvores ou executar algumas obras de conservação, a Direcção da Escola deverá trabalhar em ligação com o Conselho Executivo e estruturas da comunidade que possuam conhecimentos e meios para apoiar a escola.
7. Os campos de jogos devem ser restaurados no mais curto espaço de tempo e improvisados meios de diversão infantil nos parques de recreio utilizando meios disponíveis - troncos, paus, desperdício de madeiras, sucata adequada, pneus velhos e outros materiais.
8. Em suma, o recinto escolar deve ser atraente, agradável e alegre e não um simples conjunto físico de salas de aula".
"Semeando Futuro"
Ela apareceu-me, no gabinete, em meados de Março. Figura frágil, já a falar Português, lá me foi dizendo que era italiana, da província autónoma de Trento e que iria implementar uma Escola Profissional em Caia, nos confins da província de Sofala.
Pareceu-me, (erradamente!) que trazia consigo o "efeito de champagne": depois das borbulhas fica o líquido, liso. Mas lá lhe prestei as informações devidas. Partiu e, nas suas costas, colei uma legenda: pobre "ragaza"!
Ontem, reapareceu-me. Sorridente, cheia de força, com brilho intenso no azul critalino dos seus bonitos olhos. A "Scuola Professional Agro-Zootécnica per il Distrito di Caia" estava praticamente pronta. E, ao lado, " un centro polivalente al servizio della formazione e dell´agiornamento professionale" a partir da " creazione di una azienda agrícola modelo che sia anche centro prático applicativo per la sperimentazione concreta di tecniche innovative in agricultura e allevamento"
O tema aglutinador deste projecto educativo é "Semeando Futuro!" e a mobilização local à volta dele é fantástica.
Pedia-me, apenas, apoio para empurrar as burocracias, para não me esquecer de visitar a escola e de incluir os seus professores nos nossos futuros programas de formação.
Acho que o Matias Alves, um dos Amigos deste país e colaborador deste projecto, vai mandar os "polegares ao alto" por saber da germinação de mais uma semente. E esta enraizou bem!
E constato, mais uma vez, que as "mulheres (também) não se medem aos palmos"!
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Relação Escola-Meio
As fotos que publico têm a ver com a inauguração da Escola Profissional de Eco-Turismo de Marrupa, província de Niassa.
Na primeira, os lideres tradicionais oferecem aos antepassados alguns bens e alimentos que os contentarão e farão abençoar a escola.
(Em segundo plano, pode ver-se, sentado numa esteira, o Ministro da Educação e Cultura).
Na segunda, a comunidade local, manifesta o seu contentamento pela existência da escola, exibindo-se em danças tradicionais, multicores, frenéticas e vibrantes, cheias dessa força vital que emana da terra e que só em África parece existir.
Hoje, numa reunião interna, ouvi um consultor europeu defender que, para prevenir os roubos, as escolas deveriam ser vedadas com cercas eléctricas de 20 000 volts de potência( !) "como, agora, se faz na vizinha África do Sul, com muitos bons resultados !"
Que pedagógico apelo à interacção escola-meio! Será isto uma nova forma de "apartheid" escolar"?
domingo, 2 de setembro de 2007
"Tchova xita duma"
Mais de 4 000 jovens têm, nestas escolas, a possibilidade de se fazerem técnicos e cidadãos.
Desde sempre alimentei esta esperança.
E podem chover raios e coriscos, podem os dias ser de medo e de ansiedade, podem os jornais noticiar a criminalidade à solta, podem os assaltos esperarem-me nos cantos mais recônditos ou nas avenidas mais frequentadas, podem vir da Europa os mais prudentes avisos e receios, que essa Esperança não morrerá em mim.
"Tchova xita duma" é uma expressão Tsonga que significa "empurra que vai pegar".
Ao tomar contacto com "logo" da Escola Profissional de Malema, situada nos confins da Província de Nampula, para onde viagei em Abril passado e onde algumas das sementes lançadas pelo Mestre Matias Alves estavam já a germinar, apeteceu-me gritar também :"TCHOVA XITA DUMA!"
Conformismo
Com pouco se contentam, sem raivas, nem revoltas, nem ódios.
Serenos, sempre serenos e pacíficos.
E, para além disso, habita neles uma humildade que toca.
Podem viver, paredes meias, com a ostentação e a riqueza, podem sentir que o desperdício de alguns faria a sua felicidade, podem, mesmo, entender que são os eternos esquecidos do poder, mas as três bananas, colocadas num papel colorido à sombra de um cajueiro e que esperam comprador, alimentam-lhe a esperança de que hão-de vir dias melhores.
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Arquivo Morto:Directivas Para As Escolas (II)
IV - O Aluno
"1. Devem os professores, funcionários e todas as estruturas de Direcção da Escola assumir que o aluno é um cidadão a quem deve ser prestado amor, carinho e atenção pois se trata de uma personalidade em formação. É por isso que a tarefa da escola é formar e educar. Ao transmitirmos conhecimentos políticos, científicos e técnicos damos os instrumentos que permitam ao aluno ter uma concepção e visão científica e materialista do mundo, assumir novos valores, métodos, hábitos e comportamentos.
Isto não surge ao acaso, é produto dum trabalho consciente e sistemático no qual o aluno deve participar conscientemente. Por isso os deveres e direitos contidos no Regulamento-Tipo constituem pontos de referência de base para a correcção das atitudes e comportamentos errados e a essência para que a escola realize a sua função social.
2. Deve ser preocupação de todos acompamhar os avanços e dificuldades de cada aluno, as causas de certos comportamentos a fim de se valorizarem os aspectos positivos e organizar o combate contra as fontes de indisciplina, desleixo, desinteresse, falta de delicadeza e civismo, descortesia.
Neste combate, tem papel decisivo o corpo docente e a comunidade.
3. É por isso necessário acompanhar a vida do aluno, conhecer o seu ambiente familiar, as suas dificuldades e esforços e estabelecer um contacto directo, sempre que possível, com os pais e encarregados de educação. Não é possível em certos casos o Director ou o professor visitar a casa de cada aluno, porém os alunos organizados - o grupo, o chefe de Turma, o Conselho de turma podem e devem realizar esta tarefa desde que devidamente orientados.
Daqui resultarão relações sãs e íntimas entre os elementos do grupo, da turma, porque se conhecem íntima e profundamente e estaremos a estabelecer bases para o controle e combate às faltas injustificadas, desinteresses dos pais ou encarregados e outros aspectos negativos.
4. Nestas condições, a Escola terá bases para fundamentar o seu grau de exigência para cada aluno, tendo em conta a situação e possibilidades familiares"
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Arquivo Morto:Directivas Para As Escolas (I)
Deu-me o coração um baque e antes de deixar partir o que não conhecia, pus-me a folhear centenas de dossiers, de folhas amareladas, carcomidas pelas traças e cheias de poeira.
Talvez a virose atípica que me reteve em casa durante oito dias ( e que me levou, por três vezes, a fazer o despiste da malária) tivesse tido origem naquela bolorenta pesquisa.
E ainda bem que o fiz: recolhi e irei conservar muitos daqueles documentos. Fazem parte da História da Educação de Moçambique e talvez um dia tenham relevante préstimo.
Deixarei, para o fim destas transcrições, a citação cronológica destes documentos.
Em "Directivas para as Escolas" do ano de 19... poder-se-à ler no capítulo reservado a "Professores":
"1. O professor educa pelo exemplo:
- Pelo seu grau de consciência política e profissional
- Pela competência profissional
- Pela disciplina
- Pelos métodos de ensino e de trabalho
- Pela apresentação
Assim, deve apresentar-se de cabelo cortado, sempre penteado, limpo. Os professores devem apresentar-se de balalaica na aula teórica e de bata da cor adoptada para as aulas práticas. Serem pontuais, assíduos, dedicados e delicados.
2.Os professores devem constituir um grupo homogéneo em relação à metodologia, à avaliação e à exigência do cumprimento do programa, à observância do regulamento interno da escola e demais normas em vigor.
3.Todos participam nas reuniões dos grupos de disciplina e as ausências são justificadas perante o responsável que analisa se o motivo apresentado é válido ou não.
4. O liberalismo dos professores gera indisciplina e confusão no seio dos alunos. Um professor que não se prepara para dar as suas aulas, que não exige que os alunos estudem, que não exige aprumo e respeito, perde autoridade perante os alunos. Igualmente, se não estuda e não se esforça por melhorar a qualidade das suas aulas e esconde a sua ignorância pelo excesso de exigências perderá a confiança dos alunos.
5.O professor deve ter presente que na Sala de Aula, é a autoridade máxima. Representa o Director que, por sua vez, é o representante do Poder na escola.
Nunca deve esquecer que a autoridade não é antagónica à democracia. Ele é o centro principal da vida democrática da Escola, devendo criar condições para que os alunos, individualmente e em grupo, desenvolvam as suas capacidades de riação e iniciativa e para a sua participação consciente na realização dos principais objectivos e tarefas da Escola.
Cabe-lhe, por isso, exercitar o aluno na prática do poder popular democrático"
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Escola Profsssional de Abrantes
Chegam-me estas imagens da "minha" escola de Abrantes. Escurece-se-me o coração, como escurecidas estão as folhas, a terra e alguns dos sonhos que por lá semeei e que não verei realizados.