segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Parabens a vocês
Maputo(antiga Lourenço Marques) comemora hoje os seus 121 anos.
Feriado na cidade, fim de semana prolongado, aproveitado para pôr algumas leituras em dia, para destruir papeis (que prazer!) no escritório da palhota que habito e que fiz questão de renovar para o tornar mais acolhedor.
De tarde, um passeio pelos ícones da cidade: a baixa, a marginal, a 24 de Julho (de alto a baixo) o Museu de História Natural, um café no Polana, uma saída - a primeira (!)- ao bairo dos pescadores (fantástico),o retorno à cidade, o pôr-do-sol no Cardoso e, já noite, o regresso a casa.
De facto esta cidade é linda!
Desenhada a régua e esquadro, voltada para a baía que a envolve e parece beijar, fascina quem a visita.
Costumo dizer que só falta recuperar os espaços verdes, "lavar-lhe a cara", limpar-lhe as ruas. E noto, com satisfação, que isso começa a ser feito. Muitas árvores tem sido plantadas, sobretudo acácias e jacarandás (que, neste momento, mostram a sua sasonal generosidade cobrindo-se de flores).Os prédios começam a ser pintados com cores suaves que lhe acentuam a beleza arquitectónica.O lixo, paulatinamente, vai desaparecendo.
O actual presidente, Eneias Comiche, que os mecanismos incompreensíveis das politiquices não deixaram que voltasse a ser candidato (parece que acabou com a corrupção e não fez favores à nomenklatura instituída) merece, também, este aplauso e esta referência no dia 121º aniversário da "sua" cidade : como estrangeiro e, por tal facto, politicamente isento, (mas que, ao longo destes 7 anos, já bebeu muita "água de lenho"),quero, aqui, deixar-lhe bem expresso o meu reconhecimento:Parabens Presidente! Parabens Maputo!
Utilidades
Os machopes (ou chopes) habitam principalmente as províncias de Gaza e Inhambane.
Têm o hábito de levar para casa tudo o que encontram na rua e que entendam ser de algum préstimo. Se questionados, respondem: " Sa thuma mwani si si thami sina sakana ni vhanana", o que, traduzido à letra, quer dizer: "isto tem utilidade em casa, se não tiver será brinquedo para as crianças".
Guarda o que não presta... (que as crianças daqui não sabem o que são playstations)
domingo, 5 de outubro de 2008
Há dias assim
O Sol esqueceu-se de aparecer. O dia, preguiçoso, não passou de cinzento. Gotas de água, ainda envergonhadas, salpicam as ruas quase desertas. As pessoas deixam transparecer no rosto a(s) melancolia(s) da alma.
Há dias assim.
A Justiça das Crianças
Repeitando a ortografia, trancreve-se a redacção de uma criança que respondeu a um inquérito feito em Escolas Primárias sobre o tema "O que fazer a um ladrão"?
Citada por "O Domingo" a dita redacção foi publicada no Boletim Informativo nº 8 do Tribunal Supremo:
" Se essa pessoa robar e ser pegada devemos primeiro:
Li amarrar na árvore e comessarmos a li bater, depois li amarrar as mãos e as pernas e li levarmos ao mato e levarmos a faca e li cortar os dedos das mãos e ele sangrar
Levarmos o sangue e li mandar beber e li levarmos para casa e li meter no saco
Li levarmos para o rio de água salgada li mandar meter os dedinhos das pernas e das mãos
Li levarmos para casa li por cinsa e limão e depois li perguntar porque é que robas?
Se ele responder vamos li perdoar porque li maltratamos e depois vamos li convidar para a igreja para ele pedir perdão e também nós que li maltratamos vamos ajuelhar diante do Pastor e resamos
Depois li acompanhamos ao hospital li porem os dedos de pessoas que morreram, vamos colar-lhe com cola tudo".
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Macute
Em contraste com a "cidade de pedra", a "cidade de macute", na Ilha de Moçambique, aloja a maior parte da população residente.
As casas estão implantadas num nível inferior ao das ruas, ocupando as zonas escavadas que deram a pedra para construir a Fortaleza de S.Sebastião e a cidade adjacente.
Esta localização permitiu que o ciclone que atingiu a Ilha em Abril passado não tivesse destruído completamente as casas do macute. Apenas alguns telhados foram danificados.
Quando estive na Ilha, em Abril passado, dois dias após a passagem do ciclone, a população mais desfavorecida exigia chapas de zinco para reparação das coberturas danificadas pelo vento.
Perguntei, então, pelo Padre Lopes que tive oportunidade de conhecer e que era quem mais sabia da história da Ilha. Velhinho, de quase 90 anos, com a sua crónica surdez, havia regressado a Portugal. Foi então que ouvi de um catraio esta frase expontânea: "sabes, o Padre Lopes era Padre, mas boa pessoa! O Padre X (actual) é Padre mas não é boa pessoa!"
A 2 000 Km de Maputo
Disponibilidade absoluta, apesar do esforço que lhe era pedido, para ir à Escola Profissional da Ilha de Moçambique. Viagem aérea Maputo - Nampula seguida de deslocação em automóvel.
O fascínio da Ilha, "feia e bonita", património mundial. O Índico com cores fantásticas. A "cidade da pedra" e o "macute". Contrastes e história. Mistura de religiões. Convivência absoluta. Caras pintadas com "mussiru".Crianças a sorrirem e a falarem do Vasco da Gama e do Luís de Camões. Fotos, muitas fotos. Muçulmanos e muçulmanas a viverem o Ramadan e, ansiosos, à espera da festa que se segue: o "Ide".
Uma visita à escola, uma palavra aos directores, professores e aos alunos, que estavam visivelmente felizes. Uma ideia surgida: um curso específico de restauro, na área da construção civil. Há 50 anos de trabalho seguro para quem enveredar por esse curso. O tempo a passar. O regresso a Maputo, a despedida e o agradecimento.
Ficaram muitas mais-valias.A todos os níveis.
Venha mais vezes, Professor!
Obrigado, Professor
Chegou a 22, partiu a 27! Pouco tempo, mas valeu!
Uma palestra no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane.
Sala composta: Director Nacional do Ensino Técnico com os seus técnicos, professores e directores de escolas, assessora do Ministro, técnicos do PIREP e presidente da COREP, alunos da Universidade Pedagógica, Direcção do Instituto Superior D. Bosco (recém inaugurado)e representantes da Embaixada de Portugal.
Um tema: O ENSINO TÉCNICO E PROFISSIONAL COMO PARADIGMA DO DESENVOLVIMENTO PESSOAL, SOCIAL E TERRITORIAL.
Com este roteiro:
1. Algumas lições da história do ensino tecnológico e profissional na nossa história da educação:
Estigmatização social;
Qualificação da mão-de-obra;
Descontextualização social e económica;
Importação de modelos do centro (o sistema educativo mundial é quem mais ordena);
2. O ETeP em África: alguns resultados de alguns estudos:
Referências a alguns estudos internacionais.
3. Um novo paradigma de desenvolvimento pessoal e social:
Uma visão do ETeP assente em outros pressupostos;
O desenvolvimento humano de cada cidadão no centro da educação e do ETeP;
A cidadania activa e a solidariedade social no centro da educação e do ETeP;
ETeP à luz do desenvolvimento social e da regulação sociocomunitária;
As respostas concretas às pessoas concretas, o caso das Escolas Profissionais;
4. As escolas profissionais de Moçambique:
Como se forjou este caso de sucesso, que condições foram reunidas?
Em que fase estamos e que desafios temos por diante;
É possível e necessária a esperança como suporte da educação e do desenvolvimento social de Moçambique.
Unanimidade na assistência: "Uma brilhante Palestra !"
Assim se vai consolidando este edifício.
Obrigado Professor!
domingo, 21 de setembro de 2008
Soma e segue...
Desta vez veio a Escola Profissional da Mealhada que ofereceu os direitos de utilização do Programa Informático de Gestão Pedagógica "PROFAID", concebido, naquela escola, pelo Professor Eduardo Martins. E no Protocolo assinado em cerimónia que teve a presença de um representante da Embaixada de Portugal, diz-se, também, que a escola está disposta a receber dois professores moçambicanos para fazerem, junto dos seus colegas portugueses, uma formação em exercício, ao mesmo tempo que concederá duas bolsas de formação para jovens moçambicanos frequentarem, durante três anos, um curso de nível III.
Assim se faz a cooperação porta-a-porta, a mais eficaz.
Em nome dos jovens moçambicanos destinatários finais das ofertas, obrigado Director (e grande Amigo) Engº João Pega!
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Sagres
Hoje, enquanto tomava um café no "Jardim dos Namorados" e espraiava os olhos pelas águas tranquilas da baía de Maputo, reparei que o navio-escola "Sagres", da Armada Portuguesa, tendo içadas as bandeiras de Moçambique e Portugal abria suavemente as águas do Índico rumo ao porto da Beira.
Por instantes aquele navio fez-me recordar quinhentos anos de história, com os altos e baixos que são conhecidos. Mas o que ficou mais vincado na minha mente foi a imagem daquelas duas bandeiras, agitando-se ao vento e em pé de igualdade, prontas a desafiar o futuro.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Aqui não há restos...
Numa das minhas viagens por esse Moçambique profundo dei comigo na Escola Profissional de N´Gaùma, no coração do Niassa.
O ano de seca fazia rarear os alimentos.
A Escola, com o curso de Agro-Pecuária, possuia (e possui) alguns animais que suportavam as aprendizagens dos alunos na área da Zootecnia.
Também tem um projecto pioneiro na área da exploração piscícola que pode vir a ter muito sucesso na melhoria da dieta alimentar da população local.
Impressionou-me, no entanto, a magreza dos suínos e, puxando dos meus galões europeus, questionei o director porque motivo não utilizava os restos da cantina escolar para alimentar os animais.
-Restos da cantina? interpelou-me o director, logo rematando:
- Não deixamos restos!
Senti um murro no estômago!
Kruger Park
Gosto de ir ao Kruger, mesmo aqui ao lado.
Sempre o mesmo percurso: entrada em Crocodile Bridge, paragem em Lower Sabie para tomar um café, subida a Skukuza para umas compras, saída por Malelane para regressar a Maputo.
A beleza da Savana é deslumbrante e os animais, quando aparecem, e em total liberdade, fascinam-nos.
Achei piada a uma amiga que dizia que "no Kruger, sem podermos sair do carro, quem se sente enjaulado somos nós".
domingo, 31 de agosto de 2008
Voluntários e Heróis
E assim partiram, simultaneamente felizes e tristes.
Felizes pela(s) descoberta(s)e pelo sentido de utilidade; tristes por deixarem a comunidade a quem de corpo inteiro se entregaram, trocando a futilidade das praias do agosto luso, pela doação generosa aos desfavorecidos.
As lágrimas que rolaram quentes pelos rostos daquelas crianças praticamente sem nome vão fazer (tenho a certeza) que queiram voltar.
Parabens Guida, Rita e Pedro! E obrigado também!
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