sábado, 31 de maio de 2008

Ir ao Profeta

Só sei que a minha máquina fotográfica desapareceu. A empregada, que me acompanhou às 7 horas da manhã para aproveitar a boleia e ir ao mercado, (tinha feito uma bela sardinhada e as saladas estavam em falta) lembra-se de eu descer as escadas com a maquineta na mão e de a pôr no carro, pois queria ir a Marracuene fazer umas fotos para a revista das escolas profisionais. Parei para meter combustível e para levantar dinheiro numa ATM. Entretanto deixei-a junto do mercado Janette (esposa de Eduardo Mondlane) e rumei para a Escola Profissional de S. Francisco de Assis. Ao chegar, não tinha a máquina e tive que adiar o trabalho.
Hoje tive a visita da empregada que me veio mostrar os filhos: uma menina de 22 meses e o Vasco de 7 anos. Está intrigadíssima com o desaparecimento da máquina, pois "Patrão, tenho a certeza que a levou para o carro". E deu-me a sua opinião: "Patrão, deve ir ao profeta, pois ele vai adivinhar onde está a máquina! Só custa 100 e a máquina vale muito mais!
Disse que ia pensar.
Profetas, curandeiros, bruxos, adivinhos e médicos tradicionais são uma constante por estas paragens e o grau de credibilidade que têm é muito grande. E não se pense que só a gente mais simples e humilde os procura: diz-se, por aí, que há altos dirigentes do aparelho de estado que os chamam para benzer os seus gabinetes e tirar os maus olhados.
Procurar um, é fácil. Basta ir aos anúncios dos jornais.
E não resisto a transcrever o "marKeting" que o Dr. Wachifipa - Médico Tradicional do Este de África, faz em vários jornais locais:
" Cura e resolve vários problemas, tais como:
Força no homem, diabetes, hemorróide, sorte no trabalho, tensão alta, sucesso nos negócios, impotência sexual, dá sorte a pessoas que não têm, resolve conflitos conjugais, recupera amor perdido, cura alergia, asma, paralisia, cegueira, menstruação prolongada, dores nas pernas, tuberculose, protege corpo e empresas, tira maus espíritos, devolução de bens roubados, sucesso nos exames, diminui barriga (estética) dores das mamas, dores das ancas e dores de cabeça.
Faz crescer a parte do homem que é pequena para ser grande, a qualquer medida que a pessoa quer, o comprimento e largura"
A ADSE comparticipará?
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domingo, 25 de maio de 2008

Terror na África do Sul


Tenho lido, mas agora estou a ver a quantidade de moçambicanos que retornam da África do Sul depois das indescritíveis cenas de terrorismo xenófobo que ali se têm verificado. Rostos de sofrimento, olhos sem esperança, crianças famintas, carrinhas carregadas com os poucos haveres que, na confusão, ainda conseguiram recolher ( mas há quem venha apenas com a roupa que tinha vestida no corpo). E tudo isto perante a passividade das forças de segurança da África do Sul. Impressionou-me ver aquele indivíduo de olhos raiados de ódio a dizer "pagaram-me para fazer isto". Mas quem pagou? Boa pergunta, de complexa resposta. Ou talvez não...
Tarde, muito tarde, altos responsáveis sul-africanos manifestaram a sua vergonha pelos factos acontecidos e pediram desculpas. Como se as desculpas extinguissem as chamas assassinas lançadas para os corpos humildes daqueles que, na terra do "rand", apenas queriam uma oportunidade de trabalho.
O appartheid, de facto, ainda não foi erradicado.
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sábado, 17 de maio de 2008

Marginal




"Passeio dos tristes" ao sábado e ao domingo, a passagem pela marginal é obrigatória: 12 Km à beira da baía, lindo. De vez em quando uma paragem no "Costa do Sol" para um café, um pastel de nata, uma Água de Carvalhelhos, uma cigarrilha (agora forçosamente na esplanada) e uma leitura. Mas a fúria do mar está a fazer os rombos que as fotos mostram. 15 milhões de dólares serão necessários para a construção de sete molhes que irão amortecer a fúria do mar. Parece que há boa vontade dos chineses e diz-se que também dos americanos em troca dos terrenos do implodido "Four Seasons" para a construção da sua embaixada. Seja como for, preservem a marginal.
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Entardecer no Índico




O Sol adormece muito rapidamente nestas paragens. Talvez pela simples razão de não deixar extasiar demasiadamente quem observa a sua despedida. Mas houve, ainda, tempo para fixar estas imagens.
Fernão Veloso, Nampula, perto da Ilha de Moçambique, 22 de Março de 2008, Sábado de Páscoa.
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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Cores de Nampula

Há tanta beleza por aí. E em África, habituamo-nos a vê-la nas coisas mais simples e mais naturais...
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Drama


Na sistematização dos dados recolhidos pela equipa de supervisão, estou estarrecido com a quantidade de alunos órfãos de pai e de mãe. Têm 16 ou 17 anos o que significa que os pais, se estivessem vivos, teriam 35/40 anos. A situação é mesmo dramática nas províncias de Gaza e Inhambane, zona de muita emigração para as minas da África do Sul. De lá vêm os pais infectados com HIV/SIDA que propagam às próprias mulheres e, se polígamos, a todas elas. E assim ficam a crescer, sozinhos, milhares de crianças e jovens moçambicanos.
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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Mamanas


Elas, sempre elas a "tocarem a vida para a frente".
A produzirem nas "machambas", a venderem, a comprarem, sozinhas ou em grupos! Boa parte da economia informal, passa por elas.
Dedicam-lhe um dia: "7 de Abril - Dia da Mulher Moçambicana". Mas são-no 365 dias em cada ano!

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terça-feira, 13 de maio de 2008

Supervisão


Na Escola Portuguesa de Moçambique, em clima de grande tranquilidade e com muitos recursos sempre á mão, começámos hoje a maratona da sistematização dos dados recolhidos pela equipa de supervisão.
Milhares de Km feitos de avião e de carro, uma estadia de dois dias em cada escola.Cansativo!
Bom trabalho destes cinco elementos ! E já deu para ver: há umas farpas pequeninas a enviar a algumas escolas, mas as farpas valentes irão ser dirigidas para as Direcções Provinciais e Distritais de Educação e Cultura, que parecem apostadas em esquecer a especificidade do subsitema. Doa a quem doer, os relatórios irão fazer mossa. Não se fazem omoletes sem ovos. E o trabalho que vem sendo desenvolvido com tanto esforço, dedicação e competência, não se pode esfumar na vesguice ou incompetência de alguns burocratas acomodados.
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segunda-feira, 12 de maio de 2008

Equipa II


E vem a Luísa Orvalho e a força que dela emana.
Cinco vindas a Moçambique, muitas vezes com condições de trabalho que só quem viu pode referenciar. Transformando limitações em recursos, saltando para cima dos bancos para escrever um pouco mais alto no quadro pendurado na mangueira da Incol, distribuindo o seu sorriso e a sua energia por todos quantos com ela querem aprender, a Luísa tem vindo a deixar marcas muito positivas em todas as acções que, por aqui, tem ministrado.
Veio-me, agora, à memória a acção de formação realizada na Ilha de Moçambique. O drama que a Luísa passou para lá chegar, sozinha, de Nampula à Ilha, num "machimbombo" superlotado, debaixo de um sol escaldante (os cristais líquidos do monitor do seu computador pessoal fundiram!).
Eu, que por questões de outras logísticas só cheguei à Ilha na sessão de encerramento, recordo, agora, o telefonema que ela me fez, altas horas da noite:
-"Já estou alojada na Ilha, mas sinto-me como o paciente inglês. No quarto, tenho uma vela, uma cómoda que não dá para secretária, o guarda saíu, não posso trabalhar com o computador, os mosquitos não me deixam dormir, mas tudo se há-de resolver"
E resolveu. Nessa mesma noite e mediante uns telefonemas feitos em SOS, a Luísa foi transferida para um dos razoáveis hoteis que a Ilha dispõe.
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Equipa I


Há-de haver a fase do balanço. E por detrás do dia-a-dia deste projecto, teremos que falar de todos quantos foram premitindo o seu avanço e a sua consolidação. E, neste momento, ao rever fotos e documentos, vi o Matias Alves e a maneira como se tem dado a esta causa. Apesar das canseiras , das correrias a que se obriga, do grande esforço físico que lhe é exigido, ele tem respondido sempre, de forma positiva e disponível, ao que lhe temos solicitado. E depois, aliado à sua grande competência profissional, impressiona o perfeccionismo que põe no seu trabalho numa busca incessante do melhor para os seus formandos. Sessão após sessão, trabalho em contínuo: nos intervalos, à noite, já no alojamento, sempre a retocar, a alterar, a melhorar em função dos outputs que vai recebendo em cada dia.
Quando daqui sai leva o cansaço estampado no rosto, mas vislumbro-lhe nos olhos a satisfação do dever cumprido.
Assim são os grandes profissionais !
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Pausa em Gorongosa


Viajava de Caia para a Beira. Entardecia. Uma pausa, em Gorongosa, com a finalidade de refrescar.
Mais frescura não poderia ter encontrado!
Este país, de facto, vai-se construindo.
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Escola Profissional de Caia


E lá fui visitar a neófita, (inaugurada, com pompa e circunstância, no dia 25 de Abril), e dar uma ajuda naquilo que posso e penso saber. De avião até à Beira a que se acrecentaram 600 Km de estrada que rasga florestas lindíssimas e corre ao lado do Parque Natural da Gorongosa. Que hei-de vistar!
Sintonizar com o modelo educativo das escolas profissionais, falar de projecto educativo, apresentar e fazer estudar o Regulamento das Escolas Profissionais, (a "Bíblia", como lá foi referido), falar da progressão modular e da avaliação, enfim dar a tal "ensaboadela" inicial. Transmitir esperança e alimentar auto-estimas. Não dar o peixe, ensinar a pescar!
Uma equipa de professores muito jovem e disponível, com muito desejo de aprender, o que se manifestou mesmo na afectação ao trabalho de um sábado e de um domingo, sem um queixume.
Por detrás, uma equipa de jovens italianos de muita qualidade, com força, com determinação, com vontade de ajudar, com espírito de sacrifício e de missão - "gracie tanta", Francesca, "gracie tanta" Jenny).
Director e director de produção (que vai gerir uma "empresa modelo" adjacente à escola) nomeados após concurso público e seleccionados depois da apresentação de um projecto de desenvolvimento para a escola, de entrevista e de análise curricular. Uma inovação para uma escola pública! Mais uma referência muito positiva no âmbito das Escolas Profissionais. Aos poucos se vai progredindo no bom sentido e, como por aqui se diz, correr não é chegar...
A Escola de Caia, ao lado do Zambeze, a conviver com o "rio que não conhece amigos", salpicada de águas estagnadas deu-me, de bandeja, milhares de picadas de mosquitos, como nunca tive desde que ando por estas paragens. Acreditei mesmo que desta vez é que era, e que a malária acabaria por me bater à porta. Parece que não e as três análises já feitas dizem que o "plasmodium" não quer nada comigo. Só me resta saber se ainda estarão vivos os mosquitos que me picaram!
Parece que fui feito para andar por aqui!

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