sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Arquivo Morto:Directivas Para As Escolas (II)

Continuando a transcrever o documento em análise:

IV - O Aluno
"1. Devem os professores, funcionários e todas as estruturas de Direcção da Escola assumir que o aluno é um cidadão a quem deve ser prestado amor, carinho e atenção pois se trata de uma personalidade em formação. É por isso que a tarefa da escola é formar e educar. Ao transmitirmos conhecimentos políticos, científicos e técnicos damos os instrumentos que permitam ao aluno ter uma concepção e visão científica e materialista do mundo, assumir novos valores, métodos, hábitos e comportamentos.
Isto não surge ao acaso, é produto dum trabalho consciente e sistemático no qual o aluno deve participar conscientemente. Por isso os deveres e direitos contidos no Regulamento-Tipo constituem pontos de referência de base para a correcção das atitudes e comportamentos errados e a essência para que a escola realize a sua função social.

2. Deve ser preocupação de todos acompamhar os avanços e dificuldades de cada aluno, as causas de certos comportamentos a fim de se valorizarem os aspectos positivos e organizar o combate contra as fontes de indisciplina, desleixo, desinteresse, falta de delicadeza e civismo, descortesia.
Neste combate, tem papel decisivo o corpo docente e a comunidade.

3. É por isso necessário acompanhar a vida do aluno, conhecer o seu ambiente familiar, as suas dificuldades e esforços e estabelecer um contacto directo, sempre que possível, com os pais e encarregados de educação. Não é possível em certos casos o Director ou o professor visitar a casa de cada aluno, porém os alunos organizados - o grupo, o chefe de Turma, o Conselho de turma podem e devem realizar esta tarefa desde que devidamente orientados.
Daqui resultarão relações sãs e íntimas entre os elementos do grupo, da turma, porque se conhecem íntima e profundamente e estaremos a estabelecer bases para o controle e combate às faltas injustificadas, desinteresses dos pais ou encarregados e outros aspectos negativos.

4. Nestas condições, a Escola terá bases para fundamentar o seu grau de exigência para cada aluno, tendo em conta a situação e possibilidades familiares"

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Arquivo Morto:Directivas Para As Escolas (I)

Num destes sábados, dei comigo a vasculhar o arquivo morto do meu gabinete e isto porque ouvi dizer que iria sair de lá, não se sabendo bem para onde.
Deu-me o coração um baque e antes de deixar partir o que não conhecia, pus-me a folhear centenas de dossiers, de folhas amareladas, carcomidas pelas traças e cheias de poeira.
Talvez a virose atípica que me reteve em casa durante oito dias ( e que me levou, por três vezes, a fazer o despiste da malária) tivesse tido origem naquela bolorenta pesquisa.
E ainda bem que o fiz: recolhi e irei conservar muitos daqueles documentos. Fazem parte da História da Educação de Moçambique e talvez um dia tenham relevante préstimo.
Deixarei, para o fim destas transcrições, a citação cronológica destes documentos.

Em "Directivas para as Escolas" do ano de 19... poder-se-à ler no capítulo reservado a "Professores":

"1. O professor educa pelo exemplo:
  • Pelo seu grau de consciência política e profissional
  • Pela competência profissional
  • Pela disciplina
  • Pelos métodos de ensino e de trabalho
  • Pela apresentação

Assim, deve apresentar-se de cabelo cortado, sempre penteado, limpo. Os professores devem apresentar-se de balalaica na aula teórica e de bata da cor adoptada para as aulas práticas. Serem pontuais, assíduos, dedicados e delicados.

2.Os professores devem constituir um grupo homogéneo em relação à metodologia, à avaliação e à exigência do cumprimento do programa, à observância do regulamento interno da escola e demais normas em vigor.

3.Todos participam nas reuniões dos grupos de disciplina e as ausências são justificadas perante o responsável que analisa se o motivo apresentado é válido ou não.

4. O liberalismo dos professores gera indisciplina e confusão no seio dos alunos. Um professor que não se prepara para dar as suas aulas, que não exige que os alunos estudem, que não exige aprumo e respeito, perde autoridade perante os alunos. Igualmente, se não estuda e não se esforça por melhorar a qualidade das suas aulas e esconde a sua ignorância pelo excesso de exigências perderá a confiança dos alunos.

5.O professor deve ter presente que na Sala de Aula, é a autoridade máxima. Representa o Director que, por sua vez, é o representante do Poder na escola.

Nunca deve esquecer que a autoridade não é antagónica à democracia. Ele é o centro principal da vida democrática da Escola, devendo criar condições para que os alunos, individualmente e em grupo, desenvolvam as suas capacidades de riação e iniciativa e para a sua participação consciente na realização dos principais objectivos e tarefas da Escola.

Cabe-lhe, por isso, exercitar o aluno na prática do poder popular democrático"

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Escola Profsssional de Abrantes


Chegam-me estas imagens da "minha" escola de Abrantes. Escurece-se-me o coração, como escurecidas estão as folhas, a terra e alguns dos sonhos que por lá semeei e que não verei realizados.
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domingo, 19 de agosto de 2007

Mariza

Aqui, nascida, aqui ouvida...

sábado, 18 de agosto de 2007

Soltar amarras e partir. Fernão Veloso, junto da Ilha de Moçambique (2006)
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Para espantar o medo !



Para espantar o medo não encontrei melhor do que (re)ver a outra face deste país e desta situação. É o pôr do sol em Fernão Veloso.

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Criminalidade II

Isto está a ferro e fogo.
Não se trata já do roubo de um telemóvel por um puto esfomeado; não se trata do roubo de um farol ou de uma antena de um carro, vendidos, dois dias depois, ao próprio dono. Desta vez os profissionais andam por aí.
Esta noite, mais três polícias abatidos a sangue frio, com a STV a transmitir, praticamente em directo, cenas horrorosas. Durante o dia mais um banco assaltado, a que acresceu a sede da South Africa Airways e uma casa comercial, tudo no centro da cidade e em pleno dia.
Adiantam-se várias causas:
- Ajuste de contas entre facções da polícia;
- Disputa do poder de comando das polícias;
- Entrada de marginais da África do Sul que os está a varrer por causa do Mundial de 2010;
- Desestabilização política interna;
Impus a mim mesmo o recolher obrigatório e vamos a ver se vou passando nos intervalos de tanta confusão.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Balanço

Tenho vivido entre a razão e a emoção.
Pela razão, tropeço, a maior parte das vezes, nas baias das proibições e do socialmente correcto.
Pela emoção, corto amarras e vôo. Posso voar baixinho, mas vôo!
Hoje disseram-me que, por aqui, o excesso de emoção pode ser interpretado como neocolonialismo.
Só me faltava mais esta!

domingo, 12 de agosto de 2007

Torga - Canção do Semeador


Ainda agora, em Trás-os-Montes, andei com o Torga sempre à ilharga. Hoje e aqui, nestas terras à beira Índico, (que o Torga também contemplou e descreveu), apetece-me revisitá-lo.

" Na terra negra de vida,
Pousio do desespero,
É que o Poeta semeia
Poemas de confiança.
O Poeta é uma criança
Que devaneia.

Mas todo o semeador
Semeia contra o presente
Semeia como vidente
A seara do futuro,
Sem saber se o chão é duro
E lhe recebe a semente"


In Nibit Sibi - 1948


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segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Capitalismo Vacuum

" O paradigma do capitalismo é igual em toda a parte, mas algumas "nuances" podem ser territorializadas.
Vejamos:
Capitalismo ideal: Você tem duas vacas, vende uma, compra um boi, vem uma manada, vende a manada, fica rico, e "bate o charuto".
Capitalismo americano: Você tem mil vacas, vende uma, compra hormonas e consegue que as 999 produzam o leite de 4 000! Não tem escoamento para tanta produção. Bombardeia as manadas do Iraque, saca petróleo, entretanto as criancinhas ficam raquíticas e, como tem bom coração,exporta os excedentes para este país. Com os derivados do petróleo faz rações, as populações ficam intoxicadas, mas os investigadores inventam fármacos para eliminar esses efeitos; as multinacionais comercializam-nos a preços proibitivos.
Capitalismo japonês:Vocês tem duas vacas. Redesenha-as, reduzindo-as ao tamanho de uma vaca normal e prooduz vinte vezes mais leite. Cria, entretanto, desenhinhos de vacas chamadas vaquimon e vende-as para todo o mundo.
Capitalismo britânico: Você tem duas vacas. Ao verificar que ambas são loucas, comercializa-lhes rapidamente pele e chifres, faz lindos e caros objectos que impulsionam os compatriotas a seguirem-lhe o exemplo e cria uma indústria a partir dessa loucura.
Capitalismo holandês: Você tem duas vacas. Vivem em união de facto. Não gostam de bois. Bons em marketing, mundializam a situação, cresce o turismo para ver aquelas vacas e entram divisas de todo o mundo, via turistas.
Capitalismo alemão: Você tem duas vacas. Produzem leite regularmente, segundo padrões de quantidade e horário previamente estabelecido, de forma precisa e lucrativa. Mas o que você queria mesmo era criar porcos.
Capitalismo russo:Você tem duas vacas. Conta-as e vê que tem cinco. Conta-as, de novo, e vê que tem quarenta e duas. Volta a contar e vê que tem doze. Pára de contar e abre outra garrafa de vodka.
Capitalismo suiço: Você tem 500 vacas, mas nenhuma é sua. Cobra para guardar as vacas dos outros, sobretudo vindas de países onde é proibido criar vacas. As vacas são numeradas, distribuídas por vários currais e ninguém sabe a identidade do dono original. Entretanto o dono finou-se num acidente e o pastor ficou com as vacas.
Capitalismo espanhol: Você tem imenso orgulho em ter duas vacas.
Capitalismo brasileiro: Você tem duas vacas, ensina-lhes a sambar e reclama porque o rebanho não cresce.
Capitalismo hindú: Você tem duas vacas, ai de quem tocar nelas.
Capitalismo português: Você tem duas vacas que comprou através do Fundo Social Europeu. O Governo cria o IVA (Imposto Vacuum Acrescentado). Vende uma vaca para pagar o imposto. O fiscal aparece e multa-o, embora você tenha pago correctamente o IVA, o valor devido era pelo número de vacas presumidas e não pelo de vacas reais. O Ministério das Finanças, por meio de dados também presumidos do seu consumo de leite, queijo, sapatos, coiro e botões, presume que você tenha duzentas vacas. Para se livrar do incómodo você dá a vaca que resta ao inspector das finanças para que ele feche os olhos e dê um jeitinho.
Capitalismo moçambicano: Você tem duas vacas. Um dia, não se sabe como, apareceram-lhe no curral mais mil vacas. Cada uma bebe por dia 50 litros de água. Amigos do alheio, munidos de AKM passaram por ali e levaram-lhe 1001 vacas. Passado um ano após o roubo, veio a AdM (Águas de Moçambique) e facturou-lhe a água em função das cabeças de gado que já não tinha e para evitar pagar dinheiro que não tinha entregou a vaca ao funcionário das àguas de Maputo e foi colocar uma banca à beira da estrada para vender papaias e laranjas. Veio a Polícia Municipal, levou-lhe a banca e você sacou o cabrito ao vizinho.
Capitalismo angolano: Você tem duas vacas. Enfeitou-as com diamantes e gritou orgulhoso: "vacas com as nossas não há em parte nenhuma do mundo"."
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domingo, 5 de agosto de 2007

Economia informal - Malema

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Sementeiras e semeadores

Escrevi assim:
" Patrão,
O agricultor, às vezes, desespera. Cheio de esperança, lançou a semente à terra, mas repara, entretanto, que a sua superfície se encrosta, se tinge de castanho e fica com ar de esterilidade absoluta.
- "Perdi a sementeira!" - pensa.
E quando, cansado de tanto esperar,se prepara, novamente, para revolver a terra, verifica que, num pequeno fendilhamento, surge, tímida, uma plantinha.
Alegram-se-lhe os olhos e, dias passados, vê, viçosa, a seara esperada.
(...)
Veio a resposta:
"Olá, caro amigo,
Nós, mesmo que não pareça, é nisto que acreditamos, é que a terra está preparada, que há semeadores e boas sementes, mas que a chuva cai onde e quando quer. Assim é a vida, sem desespero algum.
Um abraço forte!"
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A Caminho do Guruè

De Nampula ao Guruè são uns centos de Km, em picada dífícil, que as chuvas, ao tempo, acabaram por piorar.
Dada a distância e as condições a viagem iniciou-se ao romper da madrugada. Haveríamos de pernoitar em Alto Molocué e, no dia seguinte, rodar, nas mesmas condições difíceis, até ao Guruè. O objectivo era verificar as condições locais para implementar uma escola profissional.
A opção restaurativa confinava-se à galinha assada ao almoço, repetindo-a ao jantar e assim sucessivamente.
O Gurè, antiga Vila Junqueiro, é um milagre de verdura:as encostas revestidas de plantações de chá são como imensos mantos verdes estendidos sobre o enrugado da terra; a nebelina nas alturas, roçando nas faldas das serras, as flores em explosivo aparecimento, as montanhas, mais longe, a debroarem o espaço, dão ao Guruè um aspecto de ilha verde, circundada, mais ao longe, muito longe, pelo agreste da savana africana.
Feito o trabalho e visitada a escola, foi o regresso a Nampula, novamente com pernoita intermédia em Alto Molocuè.
Na mesma Pensão Cruzeiro, agora sem água nem luz por via do gerador avariado, chegou o "cardápio falado" : - "galinha assada e cabrito".
Saltaram de alegria as minhas papilas gustativas: finalmente, iria saborear cabrito, deixando as já insípidas carnes galináceas.
-Quero cabrito, determinei!
Para meu espanto, nenhum dos meus companheiros alinhou na minha alternativa.
-Porquê, não estão fartos de galinha ?
- É que -esclareceu, timidamente, o engenheiro das construções escolares- por aqui há muito cão!
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