domingo, 16 de setembro de 2007

Avô

Um neto, o Daniel.
Obrigado Magda!
"Sabes Daniel, quando o avô estava em África, foi à caça dos leões que são muito perigosos. Mas o avô, era um homem de coragem, não tinha medo de nada. E de manhã, muito cedinho, lá foi à procura dos leões. Eles ainda estavam todos a fazer óó.... "

(E lá hei-de arranjar a maneira de não matar nenhum, acabando por apertar a mão a todos e a prometer ficar muiiiito amigo deles)

Chokwè

Ao visitar Chokwè, antiga Trigo de Morais, não posso esquecer o que aqui vi, quando a visitei, logo em 2001.
As cheias tinham desfeito a cidade. Na escola agrária acumulava-se lama com um metro de altura e o caos estava instalado. A água tinha subido até ao primeiro andar. Os dormitórios não tinham esgotos, nem água, nem luz e eram autênticos viveiros de malária. Os documentos que constituiam o arquivo da Escola estavam pendurados em cordéis, como peças de roupa, à espera que o sol lhes secasse a humidade e os tornasse minimamente legíveis. Nos alunos só havia descrença estampada nos olhares tristes e conformados.
Também a guerra havia afectado muito a região. Nesses tempos a escola servia de abrigo quer a alunos quer à comunidade em geral. E, mesmo assim, era flagelada com fogo de artilharia que matava e provocava muitas danificações . E se a guerra tinha o carimbo dos homens, Deus carimbou as restantes calamidades. Pobre gente!
Agora vi uma cidade renascida. E para a continuação desse renascimento eu apareci para anunciar a recuperação da escola por intermédio da Cooperação Portuguesa.
Mas o que me surpreendeu foi ter visto, num "placard" do gabinete da Direccção, um galhardete da Escola Profissional de Agricultura de Abrantes. O intercâmbio, feito em 2002, não estava apagado e a "minha" escola não estava esquecida.
Ainda me avisam para não ser emotivo!

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sábado, 15 de setembro de 2007

"Da janela do meu quarto..."


E, assim, se despediu o sol da janela do meu quarto, hoje, às 17 h40 m. Até àmanhã e bom descanso
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Directivas Para as Escolas - Arquivo Morto (III)


"A Escola"
O Regulamento-Tipo sobre a "Direcção, Organização e Funcionamento das Escolas" define estas como "Centro(s) onde se forja o Homem Novo e se preparam as crianças e os jovens para assegurarem a continuação do processo revolucionário e a construção da sociedade socialista.O aluno é um cidadão que se prepara para a sua futura participação consciente no processo de produção social como garantia de máxima realização das suas necessidades, direitos e liberdades. Deverá para isso possuir altas qualidades de disciplina, organização, respeito e cortesia para os outros, bem como conhecimentos científicos e técnicos"
1. Assim, em trabalho coordenado da direcção, professores e comunidade deve ser assumida a responsabilidade de todos participarem no processo de transmitir ao aluno a prática e gosto por:- boa apresentação no modo de vestir, aprumo, compostura e asseio (roupa limpa, cabelo cortado, limpo e penteado, higiene e limpesa individual).- civismo e cortesia no trato com outras pessoas - modo de as cumprimentar, de se levantar, de se sentar, de falar...- arrumação, embelezamento e organização:-livros e cadernos encapados, sacos limpos, lápis afiado;- sala de aula, instalações do recinto escolar, o pátio, campos de jogos, jardins impecáveis;-o quarto de dormir arranjado, a cama feita ou a esteira dobrada, etc.

2. Em particular, a Escola, durante a "Semana de Preparação do Ano lectivo" deve organizar a integração dos novos alunos e educá-los sobre o modo de utilização dos sanitários, balneários, pátios, salas de aula, campos de jogos.Mais concretamente, devem aprender a não sujar as paredes e o chão, fechar as retretes, não se sentar em cima dos muros.

3. Todos os sábados a escola deve programar uma jornada de limpeza geral às instalações e ao recinto exterior da escola.

4. É interdito colar cartazes e avisos directa e indiscriminadamente nas paredes porque tal prática leva à rápida deterioração da pintura. As escolas deverão ter locais definidos e preparar quadros para a afixação de cartazes e informações.

5. O recinto escolar deve ser bem demarcado com muros (onde for possível) e sebes a partir de plantas de fácil cuidado e rápido crescimento. É proibido utilizar arame farpado para a demarcação do recinto escolar excepto terrenos anexos (instalações agro-pecuárias)
5.1. No recinto escolar é também necessário delimitar os locais destinados à formatura, ao recreio (sombras, jardins e campos de jogos) e o capim deve ser cortado rente enquanto não houver possibilidade de plantar relva.

6. Todas as escolas devem ajardinar o recinto escolar, plantar árvores de sombra ou de fruta, arbustos de ornamentação e sobretudo flores. Neste trabalho e quando houver necessidade de podar árvores ou executar algumas obras de conservação, a Direcção da Escola deverá trabalhar em ligação com o Conselho Executivo e estruturas da comunidade que possuam conhecimentos e meios para apoiar a escola.

7. Os campos de jogos devem ser restaurados no mais curto espaço de tempo e improvisados meios de diversão infantil nos parques de recreio utilizando meios disponíveis - troncos, paus, desperdício de madeiras, sucata adequada, pneus velhos e outros materiais.

8. Em suma, o recinto escolar deve ser atraente, agradável e alegre e não um simples conjunto físico de salas de aula".

"Semeando Futuro"



Ela apareceu-me, no gabinete, em meados de Março. Figura frágil, já a falar Português, lá me foi dizendo que era italiana, da província autónoma de Trento e que iria implementar uma Escola Profissional em Caia, nos confins da província de Sofala.
Pareceu-me, (erradamente!) que trazia consigo o "efeito de champagne": depois das borbulhas fica o líquido, liso. Mas lá lhe prestei as informações devidas. Partiu e, nas suas costas, colei uma legenda: pobre "ragaza"!
Ontem, reapareceu-me. Sorridente, cheia de força, com brilho intenso no azul critalino dos seus bonitos olhos. A "Scuola Professional Agro-Zootécnica per il Distrito di Caia" estava praticamente pronta. E, ao lado, " un centro polivalente al servizio della formazione e dell´agiornamento professionale" a partir da " creazione di una azienda agrícola modelo che sia anche centro prático applicativo per la sperimentazione concreta di tecniche innovative in agricultura e allevamento"
O tema aglutinador deste projecto educativo é "Semeando Futuro!" e a mobilização local à volta dele é fantástica.
Pedia-me, apenas, apoio para empurrar as burocracias, para não me esquecer de visitar a escola e de incluir os seus professores nos nossos futuros programas de formação.
Acho que o Matias Alves, um dos Amigos deste país e colaborador deste projecto, vai mandar os "polegares ao alto" por saber da germinação de mais uma semente. E esta enraizou bem!
E constato, mais uma vez, que as "mulheres (também) não se medem aos palmos"!
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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Relação Escola-Meio



As fotos que publico têm a ver com a inauguração da Escola Profissional de Eco-Turismo de Marrupa, província de Niassa.
Na primeira, os lideres tradicionais oferecem aos antepassados alguns bens e alimentos que os contentarão e farão abençoar a escola.
(Em segundo plano, pode ver-se, sentado numa esteira, o Ministro da Educação e Cultura).
Na segunda, a comunidade local, manifesta o seu contentamento pela existência da escola, exibindo-se em danças tradicionais, multicores, frenéticas e vibrantes, cheias dessa força vital que emana da terra e que só em África parece existir.

Hoje, numa reunião interna, ouvi um consultor europeu defender que, para prevenir os roubos, as escolas deveriam ser vedadas com cercas eléctricas de 20 000 volts de potência( !) "como, agora, se faz na vizinha África do Sul, com muitos bons resultados !"
Que pedagógico apelo à interacção escola-meio! Será isto uma nova forma de "apartheid" escolar"?
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domingo, 2 de setembro de 2007

Peço licença a Augusto Gil


"..Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor"
(E sabem sorrir assim!) ?
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Escola Profissional de Malema

Bonita!
Equipada!
"Tchova xita duma !"
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"Tchova xita duma"

As Escolas Profissionais de Moçambique são, felizmente, uma realidade incontornável.
Mais de 4 000 jovens têm, nestas escolas, a possibilidade de se fazerem técnicos e cidadãos.
Desde sempre alimentei esta esperança.
E podem chover raios e coriscos, podem os dias ser de medo e de ansiedade, podem os jornais noticiar a criminalidade à solta, podem os assaltos esperarem-me nos cantos mais recônditos ou nas avenidas mais frequentadas, podem vir da Europa os mais prudentes avisos e receios, que essa Esperança não morrerá em mim.
"Tchova xita duma" é uma expressão Tsonga que significa "empurra que vai pegar".
Ao tomar contacto com "logo" da Escola Profissional de Malema, situada nos confins da Província de Nampula, para onde viagei em Abril passado e onde algumas das sementes lançadas pelo Mestre Matias Alves estavam já a germinar, apeteceu-me gritar também :"TCHOVA XITA DUMA!"
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Conformismo

O que mais admiro nos moçambicanos pobres é o conformismo.
Com pouco se contentam, sem raivas, nem revoltas, nem ódios.
Serenos, sempre serenos e pacíficos.
E, para além disso, habita neles uma humildade que toca.
Podem viver, paredes meias, com a ostentação e a riqueza, podem sentir que o desperdício de alguns faria a sua felicidade, podem, mesmo, entender que são os eternos esquecidos do poder, mas as três bananas, colocadas num papel colorido à sombra de um cajueiro e que esperam comprador, alimentam-lhe a esperança de que hão-de vir dias melhores.
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