A noiva entrega ao Senhor, seu Pai, o dote em dinheiro
embrulhado numa capulana e depois de "negociado"
O fato completo para o pai da noiva
Na véspera do casamento civil e religioso tem lugar o lobolo e anelamento, em que os representantes do noivo apresentam à familia da noiva um conjunto de dávidas que se destinam a compensar a sua saída daquela família e daquele lar.
Cerimónia contestada por alguns, que vêem nela "a compra" da noiva, o lobolo é, antes de mais, um contrato que responsabiliza a família da noiva no sentido de impedir que o casamento se dissolva por culpabilidade dela, pois, neste caso, o dote terá que ser devolvido.
Deste modo, a família e os padrinhos ao descobrirem qualquer problema no novo lar terão que intervir, acompanhar e ajudar a resolver a situação.
O dote exigido, previamente anunciado e considerado razoável pelos mais experientes, era o seguinte:
Dinheiro de anelamento : 5 000 ooo,00 de meticais; Bebidas: um garrafão de vinho,uma caixa de cerveja,uma caixa de refresco,uma garrafa de vinho branco; Roupa do papá: fato completo, camisa, gravata, par de sapatos,bengala,cinto,chapéu,par de meias; Roupa da mãe:um fato,um mucume e vemba,capulana,lenço,uma carteira,um par de sapatos,rapé,uma capulana e quenca; Roupa da noiva :um fato,um par de sapatos,uma calcinha,uma carteira,um par de brincos de ouro,um fio de ouro,um anel de ouro,um mascote de ouro, um relógio; Avós: um mucume e vemba,uma camisa e gravata; Tias: duas capulanas e lenços, lenço para dinheiro.
A cerimónia ocorre em casa da noiva, com o mestre de cerimónias a fazer sentar os padrinhos em lugar de destaque e em "cadeiras especiais".
Da família, os homens, pai da noiva incluído, sentam-se em cadeiras e as mulheres sentam-se em esteiras, no chão.
Começa, então, um interessante diálogo entre a família da noiva e os representantes do noivo, que tem de estar ausente, mas andar por perto.
No diálogo, a famílai pergunta ao que vêm aqueles estranhos e a resposta centra-se no pedido da mão de uma menina que habita aquele lar.
O pai manda entrar todas as filhas para que a eleita seja indicada, sendo-lhe perguntado se "conhece aqueles senhores". A resposta é "sim, conheço papá, são família do meu noivo".
As irmãs retiram-se e a noiva é convidade a sentar-se no chão, começando então a ser apresentado o dote à medida que as diferentes dádivas são solicitadas por membros da família. Tudo é espalhado no chão, sendo o dinheiro depositado, nota a nota, numa capulana nova, aberta sobre uma esteira.
Começa então um acerto negocial, normalmente solicitado pelas tias, que acham que a sobrinha "vale" um pouco mais e a presença de moedas no dote é
condição necessária. A cada pedido, sempre discutido e regateado, cai mais uma nota, normalmente vinda dos padrinhos que vão prevenidos com notas de pequeno valor. Aceita-se, por fim, o dote e rompem cantares de satisfação por parte das mulheres presentes.
E chega o momento mais comovente: a noiva embrulha o dinheiro na capulana e, de joelhos, entrega-o pai, dizendo: "Papá, recebe, não tenhas medo, nunca vais devolver este dinheiro, pois eu juro-te, na presença de todos e dos padrinhos, que nunca serei preguiçosa no meu lar, que hei-de ser uma esposa fiel e dedicada ao meu marido e que nunca o meu casamento se destruirá por minha culpa. Aceita, papá e deixa-me partir desta casa onde fui criada, que eu prometo visitar-te muitas vezes. Abençoa-me papá!"
Entretanto o pai retira-se para vestir o seu fato novo, regressando, pouco depois, com um ar imponente e patriacal, batendo com a bengala, compassadamente, no chão.
O padrinho vai, então, buscar o noivo e entrega-o à noiva. Explode uma alegria colectiva, com cantos e danças tradicionais, com hilariantes risos por parte das mulheres e que só param quando uma lauta refeição começa a ser servida.
E, daqui a pouco, vão começar as outras cerimónias.
Boa noite!
sábado, 6 de outubro de 2007
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5 comentários:
Parabéns ao Padrinho ( o pai pequenino).
Bastante interessante os rituais desse casamento.
Qual é a etnia dos noivos?
Obrigada pela partilha.
Um abraço,
Ju
O noivo é argentino (!)médico e professor universitário. Apaixonou-se por uma moçambicana e fez bem!
A noiva é Xangana,daqui da província de Maputo, de uma família muito tradicional
Abraço
interessante
Só pelas imagens dá para ver quanto foi interessante o casamento,de tal modo que Moçambique é um território vasto e com inumeras tradições.
Assim se celebra o casamento na zona sul de Moçambique, na zona norte, não foge muito a regra mas é mais encostado na religião Muçulmana que sem certeza, o dote não é assim tão despendioso. Mas também depende da alegria do bolso que se faz a festa.
Abraço ao senhor enginheiro e a todos visitantes desta página maravilhosa que mostra a realidade moçambicana.
Ass: Roberto Manuel
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